Inicio aqui uma série que vai analisar a cultura de estudos/esporte aqui nos EUA. Vou começar pelas diferenças fundamentais, passar pela inclusão social e falar do impacto econômico. Vamos as diferenças então:
Existe nos EUA uma cultura que integra esportes e estudos muito diferente da existente no Brasil. Desde o primário, o estudante americano tem a oportunidade de estudar pela parte da manhã e praticar um esporte na parte da tarde (geralmente lá para as 15:00) em seu colégio público. As escolas certamente oferecem outras atividades como opção: teatro, orquestra, conselho estudantil e etc. Mas a escolha mais “popular” continua sendo o esporte.
Essa integração se dá início nos colégios, segue pela faculdade, e vai parar na profissionalização. Se pararmos para pensar que a vasta maioria de desportistas profissionais aqui nos EUA tem um diploma universitário, podemos refletir o quanto o Brasil está atrasado neste quesito. Como essa cultura existe a muito tempo por aqui, vemos como tudo isso é suportado por uma excelente infra-estrutura, envolvimento das comunidades, e gratificações para atletas exemplares (como bolsas universitárias).
Esta estrutura e o apoio da comunidade é realmente impressionante. Na área dos colégios cito exemplos como o Steubenville Big Red, colégio aqui de Ohio, que tem um programa de futebol americano colegial muito conhecido e estádio em casa com capacidade para mais de 12000 pessoas. No quesito apoio, todos os jogos são lotados e com pais/comunidade ajudando os times diretamente: vendendo mercadorias em jogos, vendendo ingressos para conhecidos, cozinhando para os atletas, levantando fundos para o time, e por ai vai. Os melhores do high-school vão parar na faculdade.
Já na faculdade as coisas ganham proporções ainda maiores. Existem duas oganizações atléticas nos EUA, a NAIA e a NCAA. Focando na NCAA, por ser a mais conhecida, entramos em um mundo atlético amador que é meticulosamente estruturado por divisões (1, 2, 3, 4.... baseada no tamanho da faculdade), conferências (BIG 10, SEC, SCC e por ai vai) e esportes. As faculdades maiores, de divisão 1, geralmente recrutam os melhores atletas colegiais dos EUA. Essas faculdades não só oferecem bolsas 100% para os alunos, mas também oferecem uma estrutura praticamente profissional. Estádios imensos lotados, centros de treinamento indoor e outdoor, jogos transmitidos pela televisão e uma legião de fãs que por muitas vezes preferem seguir o esporte universitário do que o profissional:
O “Horseshoe”, estádio de futebol americano da Ohio State University, tem capacidade para mais de 100.000 e tem jogos lotados durante toda a temporada. Jogo contra o arqui-rival Michigan? Prepare-se para gastar de U$400 para cima. Os fãs dizem: “Gostamos do amor a camisa. Nossos atletas jogam por amor, não dinheiro.”
Mas e dai?
Tendo tudo isso em conta, não é chocante o fato dos EUA estarem sempre a frente do quadro de medalhas nas olímpiadas. Mas além dos benefícios e méritos do esporte, essa cultura cria “team-players” e líderes que irão ao mundo profissional com uma experiência valiosíssima no currículo. Experiência de superação, trabalho em equipe, dedicação e profissionalismo. Vale lembrar que existem regras duríssimas contra a remuneração a atletas universitários. Um simples jantar pago por um terceiro pode suspender um atleta de NCAA sob acusação de remuneração indevida. Ou seja, os estudantes tem o total apoio ao amor a camisa; coisa que, para os nossos atletas, é do passado.
Que diferença, não?